O Rei que não falava Árabe
Um poeta que falava árabe visitou um rei. Esse rei era turco e não sabia falar árabe. Em seu louvor, o poeta compôs um poema eloquente em árabe e o levou até ele. O rei estava sentado em seu trono, e diante dele havia membros de sua corte, ministros e conselheiros, como de costume. O poeta ficou em pé e começou a recitar seu poema. O rei, em cada passagem que merecia a sua aprovação, aquiescia com a cabeça, e cada vez que devia ficar surpreso, fitava-o com fascinação, e quando devia ser humilde, prestava atenção. Os cortesãos ficaram estupefatos: “Sabe-se que nosso rei não fala uma palavra de árabe, como pôde aquiescer com conhecimento? Então ele sabia árabe e escondeu isso durante anos? Se algum dia dissemos algo indelicado a seu respeito em árabe, estamos arruinados!”.
O rei tinha um servidor favorito. Os cortesãos se reuniram, deram-lhe um cavalo, uma mula e dinheiro, e propuseram-se a dar-lhe ainda outros presentes. Disseram-lhe: “Dize-nos: o rei sabe árabe ou não? E se não sabe, como é possível que tenha aquiescido no momento adequado? Essa adequação se deve a ser prodígio ou a uma inspiração?”
Um dia, aproveitando-se do bom humor do rei após uma boa caçada, o servidor perguntou-lhe se sabia árabe. O rei pôs-se a rir e disse-lhe: “Deus é testemunha que não sei árabe. Mas, se aquiesci e dei provas de admiração quando era necessário, é porque a intenção do poema era clara”.
Fihi-Ma-Fihi: O Livro do Interior, p. 47. Rumi (sufi do séc. XIII).