Mahmud e o Pescador
Contam que um dia o rei Mahmud separou-se acidentalmente de seu exército. Sozinho, lançava adiante seu cavalo rápido como o vento quando viu, sentado à beira de um rio, um menino que lançava sua rede ao fundo das águas. O rei saudou-o e colocou-se diante dele. Mas o menino estava triste, tinha o coração ferido e a alma machucada.
– Querido menino, disse-lhe o rei, o que te faz tão triste? Nunca vi ninguém tão aflito como tu!
O menino respondeu:
– Ó ilustre príncipe! Sabe que somos sete filhos sem pai. Ainda temos nossa mãe, mas é muito pobre e sem sustento. Jogo minha rede todos os dias para termos algo que comer à noite. E somente quando pego um peixe, depois de muito trabalho, temos do que viver.
– Queres, minha pobre criança, que eu seja teu sócio na pesca?, perguntou o rei.
O garoto consentiu, e o rei lançou ao rio a rede do pequeno. A rede participou da felicidade do rei e colheu cem peixes naquele dia.
Quando o menino viu todos aqueles peixes diante de si, disse:
– Estou admirado de minha boa sorte!
Ó filho meu! (falou de si para si), és muito feliz de que tantos peixes tenham caído em tua rede. Porém o rei lhe disse:
– Não te enganes, ó pequeno sobre a verdade de quem pescou estes peixes para ti. Falou assim e voltou a montar seu cavalo.
– Toma tua parte, disse o menino precipitadamente, é somente o justo.
O rei disse que naquele dia nada queria:
– Amanhã pescarás para mim, e certamente não dareis o produto da pesca a ninguém.
No dia seguinte, enquanto andava sob a sombra de seu jardim, o rei lembrou do amigo que tinha feito e mandou chamar o menino, fazendo-o sentar com ele no trono na qualidade de seu associado.
– Senhor, disseram-lhe, este menino é um mendigo.
– Não importa, respondeu o rei, ele é meu sócio. Ontem formamos uma sociedade, e hoje não posso rejeitá-lo.
De fato, o rei tratou-o como a um igual. Naquele momento alguém perguntou ao menino:
– Como adquiriste um tal grau de honra?
Ele respondeu:
– Chegou-me a alegria e meu pesar desapareceu, porque um feliz monarca me encontrou.
A Linguagem dos Pássaros, p. 96. Farid ud-Din Attar (sufi do séc. XII).