História das Mariposas
Uma noite as mariposas reuniram-se atormentadas pelo desejo de unir-se à vela. Disseram todas: “Temos de encontrar alguém que possa dar-nos notícias do objeto de nossa busca amorosa”. Uma mariposa foi então até um distante castelo e avistou no interior a luz de uma vela. Ela retornou e contou o que havia visto; pôs-se a fazer a descrição da vela de acordo com sua inteligência. Porém a sábia mariposa que presidia a reunião advertiu que a mariposa exploradora nada sabia sobre a vela. Outra mariposa aproximou-se da luz e tocou com suas assas a chama: a vela foi vitoriosa, e a mariposa vencida. Esta última também retornou e revelou qualquer coisa a respeito do mistério; explicou, segundo sua própria experiência, em que consistia a união com a vela. Porém a sábia mariposa lhe disse: “Tua explicação não é melhor que aquela que foi dada por tua companheira”.
Uma terceira mariposa voou, ébria de amor, e atirou-se violentamente contra a chama da vela: impulsionada por suas patas traseiras, ela estendeu ao mesmo tempo suas patas dianteiras em direção à chama. Perdeu a si mesma e identificou-se alegremente com a chama; abraçou-a por completo e seus membros tornaram-se vermelhos como o fogo. Quando a sábia mariposa, chefe da reunião, viu ao longe que a vela havia identificado o inseto consigo mesma e lhe havia dado sua aparência, disse: “A mariposa conheceu o que queria saber; porém somente ela o compreende, e eis tudo”.
Aquele que de fato não tem nem rastro nem sinal de sua própria existência sabe mais que os outros a respeito do aniquilamento. Enquanto não ignorares teu corpo e tua alma, poderás conhecer o objeto de teu amor? Penetrar a verdade oculta da qual não se pode falar é ir além de todo o conhecimento e encontrar a compreensão que escapa à mente. Aqui todo o conhecimento é inútil; aquele que obtém a menor notícia a esse respeito mergulha por isso sua alma no sangue; no lugar onde não é admitido ninguém senão Ele mesmo, ninguém mais poderá sê-lo.
A Linguagem dos Pássaros, p. 218. Farid ud-Din Attar, (sufi séc. XII).