A muralha do mistério
“No extremo Oriente existia uma muralha de mistério, da qual poucos se aproximavam. Algumas vezes, alguns conseguiam não só chegar perto, como escalar a muralha. Apesar de ser imensamente difícil chegar ao topo, alguns continuavam até conseguir. Quem tinha sucesso nisso e olhava para o outro lado, era visto sorrindo, até atravessar a muralha e desaparecer para sempre.
Com o tempo, os moradores daquele país repararam que os que estavam se aproximando da muralha tinham algumas características em comum: seus olhos como atravessavam as coisas, mirando o infinito; mostravam-se absortas e autocentradas, como alheias ao exterior e meditando sobre questões que os homens a seu redor não conseguiam entender, e, além disso, não respondiam o que se lhes perguntava.
O que havia além da muralha? Isso deixava as pessoas muito curiosas, mesmo que não quisessem correr o risco de tentar subi-la. Dessa forma, muitos traçaram uma estratégia. Quando notassem que uma pessoa de olhos compenetrados e visão interior estivesse se voltando para a muralha, trariam correntes e ficariam aguardando-a perto dela. Assim que perceberam que um jovem tinha se aproximado e começava a subir a muralha, acorrentaram os seus pés. Não obstante ele prosseguiu na escalada, subindo, subindo, até que chegou ao topo.
Quando olhou para o outro lado, abriu um sorriso esplendoroso, como os outros antes dele. Os homens ao pé da muralha, imensamente curiosos, puxaram a corrente, trazendo o homem de volta. Repletos de ansiedade, começaram a perguntar-lhe muitas coisas, para saber como era o outro lado. Só que o jovem não respondeu nada, em absoluto. Quando ele pisou no chão novamente, ele tinha perdido o dom da fala”.
*Adaptado de Jacob Nedlemann, Filosofia Viva. SP: Attar